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sexta-feira, 3 de junho de 2016

Lobista suspeito de operar para amigo de Aécio Neves no exterior é alvo do MP



A operação Aequalis, que prendeu o ex-presidente do PSDB em Minas Gerais Narcio Rodrigues, busca agora o braço direito do ex-secretário de Ciência e Tecnologia do então governador Antonio Anastasia (PSDB) no suposto esquema. Esse homem seria o advogado Odo Adão Filho, mais conhecido como "Odinho".

A polícia cumpriu mandado de busca e apreensão no prédio de Odo Adão Filho, no bairro Anchieta, região Centro-Sul de Belo Horizonte, no último dia 30, quando a operação foi deflagrada pelo Ministério Público de Minas (MPMG). Apontado como lobista internacional e operador de Narcio Rodrigues também por fontes ouvidas pela reportagem, o advogado e vice-cônsul da República do Senegal no Brasil não é visto no prédio há mais de 20 dias.

Desde 2014, Odo Adão Filho é diretor de relações institucionais do grupo português Yser. O diretor no Brasil da multinacional, Hugo Alexandre Timóteo Murcho, também foi preso na operação da última segunda.


O presidente da empresa portuguesa, Bernardo Ernesto Simões Moniz da Maia, está foragido.

A operação investiga o envolvimento de agentes públicos ligados ao Estado e empresários, brasileiros e portugueses, em esquema de desvio de recursos públicos. Segundo auditoria da Controladoria Geral do Estado (CGE), os valores desviados entre 2012 e 2014 teriam superado R$ 14 milhões e deveriam ser destinados à construção e projetos da "Cidade das Águas", uma das ações da Fundação Unesco-Hidroex, vinculada à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes).

A investigação apura se o dinheiro desviado teria sido usado em campanhas, como apontou o executivo português Firmino Rocha, em delação premiada. Aos investigadores, Firmino afirmou que Narcio Rodrigues teria recebido R$ 1,5 milhão em propina, parte destinada a financiamento eleitoral. Na época em que Narcio comandava o partido, o operador financeiro das campanhas era Eduardo Nogueira, que não foi encontrado para se manifestar sobre a investigação.

RELAÇÃO ANTIGA.A parceria entre Narcio Rodrigues e Odo Adão Filho é mais antiga. O ex-deputado tucano e o pai de "Odinho", Odo Adão, criaram juntos o Centro Nacional da Cidadania Negra (Ceneg), em Uberaba, no Triângulo Mineiro, em parceria com o então vereador Gilberto Caixeta (PSDB).

Entre 2000 e 2002, o Ministério do Turismo repassou ao Ceneg quase R$ 3 milhões em convênios para a realização de projetos destinados à qualificação e promoção da comunidade negra, segundo dados da Controladoria Geral da União (CGU). Em 2009, o Ceneg foi fechado pelo governo federal em função de denúncias de desvio de dinheiro, apontado pelo Ministério Público Federal (MPF). Odo Adão Filho era presidente da instituição na época.

Em julho de 2009, enquanto estava sendo investigado, um incêndio destruiu parte do prédio que abrigava o centro. Vários documentos e materiais informativos foram destruídos. Na época, o então deputado Narcio Rodrigues negou irregularidades e culpou o governo federal pelo fechamento do centro.

"O Ceneg deixou de existir no dia em que o governo Lula entendeu que não era uma experiência boa. Essa é uma obra que mostra de que forma um encaminhamento político pode trazer prejuízos à comunidade", declarou à época.

No final de 2014, o MPF obteve a condenação dos ex diretores do Ceneg Gilberto Caixeta e Adélio Leocádio da Silva, por crime de estelionato contra a administração pública. Segundo a sentença, ficou demonstrada a prática de diversas irregularidades na execução dos convênios com a União. Constatou se que foram desviados mais de R$ 700 mil em valores da época.

Tucano fica calado em depoimento

Em depoimento realizado no início da noite de quarta-feira, o ex-presidente do PSDB de Minas Gerais Narcio Rodrigues se recusou a responder às perguntas dos promotores responsáveis pela operação Aequalis. Ele está preso desde segunda-feira no Complexo Penitenciário Nelson Hungria. O Ministério Público Estadual estuda pedir a prorrogação da prisão do político. O prazo de cinco dias da prisão temporária termina hoje. Segundo fontes que acompanham a investigação, Narcio Rodrigues alegou seu direito legal de permanecer calado e não respondeu aos questionamentos dos promotores. Ontem, depois de passar duas noites no Complexo Penitenciário Nelson Hungria, o mesmo onde está preso o operador do mensalão, Marcos Valério de Souza, o ex secretário chegou à sede do MPE em Belo Horizonte vestindo o uniforme vermelho da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi) e chinelos pretos. Rodrigues esperou por mais de cinco horas o depoimento do empresário português Hugo Alexandre Timóteo Murcho, ex-diretor do Grupo Yser, sentado em um banco de madeira no corredor que leva à sala dos promotores.

CPI é cogitado

Assembleia. O deputado federal Rogério Correia (PT) começou ontem a recolher assinaturas para a criação da CPI do Hidroex. A ideia inicial é pedir assinaturas entre os parlamentares de PT, PMDB e PCdoB. Contas. Juntos, os três partidos possuem 24 deputados. Para se abrir uma CPI, são necessários 26 assinaturas. Dúvida. O grande problema é que muitos deputados do bloco independente também têm boas relações com o PSDB, de cujo governo fizeram parte.

Chancela foi obtida por peemedebista

Narcio Rodrigues e Odo Adão Filho fizeram viagens juntos ao exterior. Um dos destinos foi Portugal, sede do grupo Yser, investigado pela operação Aequalis. Eles também estiveram em Paris com Igor Tameirão, nomeado representante do Hidroex na Unesco por Narcio. A entidade internacional chancelou o Fundação Hidroex,localizada em Frutal, base eleitoral de Narcio, tornando-o parte de sua rede. Foi Tameirão, um ex-membro da Juventude do PMDB, que conseguiu a chancela. A reportagem tentou contato com ele, mas não obteve resposta. Nas viagens estava presente também o deputado estadual João Vitor Xavier (PSDB). Ele confirmou que o convite para ir a Portugal foi feito por Narcio, quando este era secretário, e disse que trataram de um projeto de energia eficiente. Ele afirma ter conhecido Odo por intermédio do colega tucano.

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