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segunda-feira, 9 de maio de 2016

Para chegar a Lula, tucanos bancam suspensão de cassação de Delcídio



Em sessão que ouviu o senador Delcídio Amaral (sem partido-MS), senadores tucanos bancaram tese da defesa, que pede a suspensão do processo de cassação do ex-líder do governo. A estratégia da oposição é manter o processo de Delcídio vivo no Senado e abrir espaço para mais acusações contra o governo e contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já que foi incluída no processo, na última semana, denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o ex-presidente. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou a suspensão do processo até quinta-feira, 12, prazo máximo para votação no colegiado conforme regimento da Casa.

Após apelo da defesa do senador, um requerimento apresentado pelo tucano Aloysio Nunes (PSDB-SP) pediu a suspensão do processo de cassação de Delcídio até que o Senado tivesse acesso aos novos fatos incluídos no processo do senador. O aditamento foi feito pelo Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, na última terça-feira, 3, alegando que Lula, o pecuarista Carlos Bumlai e seu filho, Maurício, também tiveram participação na tentativa de compra de silêncio do ex-diretor da área internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró.

O pedido de Aloysio Nunes foi endossado por uma fileira de outros tucanos, que pediram a palavra para apoiar o adiamento da votação contra Delcídio. Entre eles, o relator do processo de impeachment da presidente Dilma, Antonio Anastasia (PSDB-MG), e o relator do próprio processo de Delcídio na CCJ, Ricardo Ferraço (PSDB-ES), que já havia apresentado relatório a favor da constitucionalidade da cassação de Delcídio.

"Evidentemente esse aditamento traz o chamado fato novo, fundamental para a defesa. E o princípio da defesa, nós não podemos, ainda mais num processo com essas características, desprezá-lo", disse Anastasia. No mês passado, o Estadão adiantou que tucanos negociavam com Delcídio sua vinda ao Senado para reforçar acusações contra o governo às vésperas da votação do impeachment de Dilma e, ao mesmo tempo, aliviar as citações que fez em delação premiada sobre o presidente do PSDB, Aécio Neves (MG).


O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) classificou a decisão como "temerária". Para ele, o aditamento ao processo de Delcídio não traz fatos novos, mas apenas novos atores. Ele argumenta que o processo que analisa a quebra de decoro não é penal e que a gravação em que Delcídio supostamente traça um plano de fuga para Cerveró é suficiente para análise no Senado, independentemente do andamento no STF.

Para o senador Delcídio Amaral, a decisão da CCJ foi "didática". Ele admitiu que cometeu erros, mas que não pode lhe ser negado o direito de defesa e que, para que esse direito seja pleno, seus advogados precisam ter conhecimento da inclusão de fatos novos ao processo. Ainda de acordo com o senador, a cassação é a punição mais severa do Senado e não condiz com os erros que ele cometeu. Ele pede uma punição mais branda, como uma suspensão provisória.

Impeachment

Com o adiamento da decisão, Delcídio garante a continuação do seu mandato até a próxima quarta-feira, 11, data prevista para a votação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O senador, que foi líder do governo Dilma, demonstrou total interesse em participar da votação e confirmou voto pelo afastamento da petista. "Se me permitirem, votarei no impeachment com muito prazer."

A situação causou revolta no plenário do Senado, onde o presidente, Renan Calheiros (PMDB-AL), comparou a decisão a um espetáculo. Renan trabalhou durante a última semana para garantir que Delcídio fosse cassado antes da votação do impeachment de Dilma Rousseff, um pedido que a própria presidente teria feito a ele. O peemedebista chegou a ameaçar não realizar a votação do afastamento de Dilma se a cassação de Delcídio não fosse apreciada antes.

Fuga

Delcídio Amaral voltou pela primeira vez ao Senado nesta segunda-feira, 9, mais de cinco meses após ser preso preventivamente, acusado de obstruir as investigações na operação Lava Jato. Ele participou da sessão da CCJ destinada à votação de parecer em favor da legalidade de sua cassação. Ele pediu desculpas ao povo brasileiro e também ao povo do seu Estado, Mato Grosso do Sul.

O senador admitiu que cometeu erros e falou sobre o suposto plano de fuga que teria traçado para Cerveró. De acordo com Delcídio, o plano é "mirabolante" e suas falas na gravação, que é base para o seu processo de cassação, foram "absurdas e inconsequentes". De toda forma, ele argumenta que o plano não se concretizou e não existem provas que ele tenha agido por isso. Ele se emocionou e chegou a chorar ao falar sobre as filhas e também se disse "feliz" em voltar ao Senado e rever as pessoas.

Aécio foi citado por delatores

O nome do senador Aécio Neves (PSDB-MG), um dos principais líderes da oposição ao governo Dilma, foi citado durante as investigações da Operação Lava Jato por quatro delatores. O doleiro Alberto Youssef disse ter ouvido do ex-deputado José Janene (que morreu em 2010) que Aécio dividiria a arrecadação de propina de uma diretoria de Furnas com o PP. Em julho de 2015, o operador de valores Carlos Alexandre de Souza Rocha, conhecido como Ceará, disse - em depoimento ligado à sua delação premiada - ter levado R$ 300 mil a um diretor da UTC no Rio e que o dinheiro seria destinado ao senador do PSDB. Os dois casos foram arquivados pelo ministro do STF Teori Zavascki por insuficiência de informações.

Em fevereiro deste ano, o lobista Fernando Moura, em depoimento ao juiz Sergio Moro, disse ter ouvido relato de uma suposta divisão de propina proveniente da estatal Furnas para Aécio. Em sua delação premiada, o ex-líder do governo no Senado Delcídio Amaral disse que o tucano - na época governador de Minas - atuou para maquiar as contas do Banco Rural durante CPI dos Correios. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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