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quarta-feira, 18 de maio de 2016

Democracia no Brasil corre riscos, diz Sonia Braga em Cannes


O jornal inglês The Guardian, que colocou em sua capa o protesto da equipe de Aquarius, no tapete vermelho do maior festival do mundo, contra o golpe no Brasil, enviou seu repórter à coletiva do filme de Kleber Mendonça Filho para tentar entender o que está se passando no Brasil.
A atriz brasileira Sonia Braga afirmou nesta quarta-feira (18) que a democracia brasileira está "em risco" e criticou a divisão política do país. As afirmações foram feitas em Cannes, durante a coletiva de imprensa do filme Aquarius, que concorre ao prêmio principal do tradicional Festival de Cannes.
 "O Brasil de hoje está dividido como nunca esteve. Um fenômeno difícil de superar com uma democracia nascida da ditadura e com uma imprensa pouco objetiva. Essa divisão dá medo e há risco de fascismo. No governo há ministros corruptos e é justo que se demitam", disse Braga ao ser questionada sobre o protesto feito pelos atores do filme sobre a situação do Brasil.

"Sabia do protesto dos meus colegas em Cannes, mas não sabia o que eles iriam fazer. Quando vi os cartazes no tapete vermelho, fique entusiasmada. Este protesto terá o resultado certo nas mídias internacionais, enquanto não fez algo assim naqueles brasileiros", disse ainda a atriz.

Sonia Braga se referia aos cartazes com frases em inglês e francês com os dizeres "O mundo não pode aceitar esse governo ilegítimo", "Brasil está passando por um golpe de Estado", "Um golpe está acontecendo no Brasil" segurados pelos atores Humberto Carrão, Maeve Jinkings e o diretor Kleber Mendonça Filho. Dentro da exibição de Aquarius, uma faixa com a frase "Interrompam o golpe no Brasil" foi estendida.

Sobre o filme, Sonia Braga falou que sua personagem, Clara, mostrou seu ponto de vista sobre diversas coisas. "Clara, me deu a oportunidade de falar o que penso da vida porque sua filosofia é a liberdade. Clara tem tantas qualidades que eu gostaria de ser ela. Uma mulher que encontra a força de voltar a viver", ressaltou.

"Crítica internacional: O filme Aquarius foi muito bem recebido pela crítica internacional. O jornal português Publico afirmou que "é o melhor filme apresentado até o momento" no Festival de Cannes.

Já o britânico The Telegraph, deu cinco estrelas para o longa e intitulou a matéria como "Aquarius vai fazer você querer se mudar para o Brasil". Chamando o filme de "metáfora" da sociedade brasileira, o também britânico The Guardian deu quatro estrelas para o longa de Kleber Mendonça Filho. O Variety seguiu a mesma linha e afirmou que o diretor é "alguém capaz de captar a totalidade da sociedade brasileira em uma rua residencial de Recife através de um ritmo equilibrado e extremamente sofisticado".

 Cartazes em Cannes
Protesto contra  golpe foi simples e funcionou, diz diretor


 "Não queria nada barulhento e que soasse inadequado. Foi um ato simples e que funcionou. Fiquei tocado", disse o diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho sobre a repercussão do ato anti-impeachment feito pela equipe do longa no Festival de Cannes.

Ele comentou o protesto na coletiva de imprensa de seu filme, "Aquarius", nesta quarta-feira (18).

A estreia do filme nacional no evento francês, na tarde de terça (17), foi marcada pelo ato, encampado pelo diretor e pelo elenco, incluindo a atriz principal, Sonia Braga. A manifestação em apoio ao mandato de Dilma  teve repercussão internacional.

Antes da projeção, assim que subiu a escadaria que dá para o Palais, a equipe estendeu cartazes com dizeres como "o Brasil está sofrendo um golpe de Estado". Dentro do cinema, outros convidados brasileiros estenderam uma faixa.

"Fiquei muito tocado quando soube da repercussão. Foi um ato importante porque a mídia local é enviesada", disse o diretor, respondendo à pergunta de um jornalista do britânico "The Guardian", numa coletiva tomada majoritariamente por brasileiros.

Segundo o diretor, a ideia do protesto veio de um grupo de diretores e produtores brasileiros em Cannes. "'Os papéis têm frases curtas, que basicamente expressam o que se passa no Brasil. Hoje estamos na capa da Folha e do 'Guardian'".

"Aquarius" gira em torno de Clara (Sonia Braga), viúva sexagenária que tem de enfrentar uma construtora com planos de demolir o prédio em que ela vive, na praia de Boa Viagem, no Recife. Cercada de livros, discos e álbuns de fotos —de memória—, ela é uma pedra de resistência contra a invasão da especulação imobiliária.

O longa é o único título brasileiro na competição oficial do Festival de Cannes.

Para o diretor, é um filme sobre "resistência, sobrevivência e a energia que se gasta tentando resistir."

Sonia Braga também foi perguntada sobre o protesto. "O Brasil está dividido e isso não acontecia desde a redemocratização. Há pessoas no novo governo que são corruptas. Toda essa transição vai ser nociva à nossa democracia, que foi tão difícil de conquistar."

Mendonça Filho comentou a polarização na sociedade. "Isso está trazendo o pior dos dois lados, principalmente da direita, que está deixando vir à tona o fascismo."

Uma jornalista americana disse ter ficado intrigada com a dissociação que existe no Brasil entre a elite cultural, representada no filme por Clara, e a elite econômica, que aparece na figura do engenheiro Diego (Humberto Carrão), herdeiro da construtora.

"Ambas vêm do mesmo estrato social, mas cada vez mais pensam diferente", disse o diretor.

Sonia também comentou o status do cinema nacional e a importância da TV na cultura brasileira.

"A televisão é importante porque no Brasil as pessoas têm pouco tempo ou dinheiro para irem ao cinema. Não é por falta de sofisticação que os filmes brasileiros não são tão populares, é porque ir ao cinema acaba comprometendo o orçamento das pessoas."

Sobre estar afastada da televisão, disse que entrou com um processo na Justiça contra a Globo a respeito de direitos de imagem.

"Eles não pagam direitos aos atores quando reprisam as novelas. Quando disse que processaria a Globo, me disseram: 'Vai perder'. Eu perdi."



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