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terça-feira, 31 de maio de 2016

Caiu mais um ministro do governo biônico. 2ª queda em 18 dias


Os grampos feitos pelo ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado derrubaram o segundo ministro do governo biônico de  Michel Temer em um período inferior a dez dias. Na segunda-feira da semana passada, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) deixou o Ministério do Planejamento; ontem foi a vez do servidor de carreira do Senado Fabiano Silveira, que pediu exoneração do Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle do governo federal.
 Silveira entregou sua carta de demissão ontem à noite após ter sido flagrado em conversas com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), nas quais ele ajudava o peemedebista a montar um plano de defesa do parlamentar contra a investigação da Lava Jato. Ele chegou a afirmar: "Eles estão perdidos", em referência aos inquéritos contra o senador.

Após a divulgação dos áudios, cerca de 300 ocupantes de cargos de direção, inclusive os 27 chefes regionais do ministério entregaram seus cargos. A ONG Transparência Internacional também pediu a exoneração de Silveira.

Pressão

Mesmo com a pressão da opinião pública, Temer decidiu não exonerar Silveira para não contrariar o presidente do Senado, que é padrinho político do então ministro de Transparência, Fiscalização e Controle. Na sua carta de demissão, Silveira afirma que a permanência no cargo poderia "trazer reflexos para o cargo". "Jamais intercedi junto a órgãos públicos em favor de terceiros", alegou Silveira, negando a intenção de influenciar investigações da Lava Jato.Na semana passada, Jucá deixou o governo após ser flagrado em áudios defendendo "um pacto" contra a Lava Jato.

Protesto

Protestos, que tiveram até uma 'lavagem' do gabinete, ajudaram a elevar pressão sobre ministro
A"demissão" de Fabiano Silveira começou a ser desenhada logo cedo com o protesto dos servidores da antiga Controladoria-Geral da União (CGU), hoje Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle, na sede do órgão. Com cartazes e gritos de guerra que chamavam Silveira de "ex-ministro", os funcionários promoveram uma "faxina" simbólica na entrada do gabinete de Silveira e nas escadas do prédio do ministério.

Vassouras coloridas deram o tom da "higienização" feita no protesto bem-humorado. Nas faixas, o ministério era tratado pela sigla "Tráfico", referência às sílabas iniciais de cada tema do nome da pasta e em crítica às mudanças consideradas inadequadas pelos servidores. Além da saída de Silveira, flagrado em gravações comprometedoras, eles reivindicavam o retorno da CGU, ligada à Presidência da República. Para os funcionários, a alteração promovida por Temer esvaziou o órgão, deixando-o vulnerável à ingerência política.

A divulgação dos áudios de Silveira levou os servidores a antecipar uma marcha que estava prevista para hoje. Cerca de 300 servidores da antiga CGU, nos cálculos da organização, fizeram uma caminhada até o Palácio do Planalto. As faixas não economizaram críticas contra Silveira: "Fora, capanga de Renan!", "Temer, demite", "Procurado! Cadeia já!" e "Tchau, querido!".

No ato, eles também pediram a aprovação da PEC 45/2009, que coloca no texto constitucional a CGU como órgão "de natureza permanente".

Uma das líderes do movimento, com megafone em punho, comandava o coro: - Viemos comunicar que o senhor Fabiano Silveira está demitido pelos servidores da CGU.

A queda de dois ministros em uma semana, num governo com míseros 19 dias de vida, é provavelmente um recorde. Mas, para além de curiosidades estatísticas, levanta sérias dúvidas sobre a capacidade de resiliência de Michel Temer e torna imprevisível o desfecho da crise política.

Como se sabe, Temer fez uma opção clara ao montar seu governo interino: escalou um time político, de reputação duvidosa, com o propósito de ter o controle do Congresso.Além da urgência em aprovar uma pauta econômica controversa, precisa, afinal, confirmar o impeachment de Dilma para seguir no poder.

Em outras palavras, o presidente interino voltou-se para o Legislativo e virou as costas para as ruas, cuja pauta principal desde 2013 é a ética. Para um governo que começa em crise e impopular, parece uma aposta alta demais.

A demissão do ministro da Transparência, Fabiano Silveira, dá margem ainda à versão de que o objetivo da troca de comando seria domar a Lava-Jato. Algo que soa razoável quando o homem responsável por cuidar do combate à corrupção no governo é apanhado dando orientações ao presidente do Senado, Renan Calheiros, de como se livrar de seus incontáveis inquéritos no STF.

A verdade, como quase sempre, é provavelmente algo no meio do caminho. Há, de certo, quem tenha visto em Temer apenas a chance de se livrar das investigações. Mas é bom lembrar que o PT exigiu - e conseguiu - até a troca do ministro da Justiça por considerar que Dilma perdera o controle da PF a ponto de ameaçar Lula de prisão.

O fato é que as gravações de Sérgio Machado já fizeram um estrago no governo recém-nascido. Mais alguns áudios, e Temer poderá pedir música. E a Lava-Jato está mais forte do que nunca. Seu controle é impossível. Suas consequências, imprevisíveis.

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