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quarta-feira, 6 de julho de 2011

Niterói é a praia da população classe A do país

Os cariocas costumam dizer, com certa ironia, que a melhor coisa de Niterói é a vista do Rio de Janeiro. Mas são as estatísticas, mais do que as rivalidades locais, que definem com mais rigor o que a cidade tem a oferecer. O município é um dos líderes nacionais em renda média por habitante e em qualidade de vida - tem o terceiro melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, atrás de São Caetano e Águas de São Pedro, em São Paulo.Agora, pesquisa recente da Fundação Getulio Vargas (FGV) traz um dado novo: Niterói também é o município brasileiro com maior parcela da população na classe A, a elite econômica: 30,7% da população está na faixa de renda domiciliar mensal acima de R$ 6.745, deixando para trás Florianópolis, Vitória, São Caetano do Sul, Porto Alegre, Brasília e Santos. Consideradas as classes A e B (renda domiciliar entre R$ 5.174 e R$ 6.745), Niterói continua em primeiro no ranking, com 42,9% das pessoas nesse estrato econômico.

O que leva Niterói, município encravado entre o mar e a montanha, cuja área equivale a cerca de 10% do território do Rio, a registrar indicadores sócio-econômicos tão altos? "Niterói não tem todas as deseconomias de grandes cidades e o IDH alto reflete políticas de educação e saúde consistentes", explica Marcelo Neri, economista-chefe do Centro de Políticas Sociais (CPS) da FGV e coordenador da pesquisa. Em Niterói, há, por exemplo, oito universidades, incluindo a Federal Fluminense (UFF), e o município tem tradição no ensino privado.

Há outros aspectos que podem contribuir para que pessoas de maior renda optem por morar em Niterói. Um deles é o fato de a cidade, com menos de 500 mil habitantes, ser um lugar com muito verde e com mais de 30% do território formado por reservas naturais. Separado do Rio pela baía de Guanabara, o município tem áreas costeiras e aspecto calmo de cidade do interior. Quem nasce em Niterói, normalmente continua a morar por lá, assim como parte das gerações seguintes. "É bom morar aqui", afirma Selmo Treiger, secretário municipal de Fazenda.

É comum, porém, ouvir reclamações dos moradores sobre a violência, o crescimento das favelas e os problemas de tráfego urbano. Por dia, 150 mil veículos transitam, em média, pela ponte Rio-Niterói. A maior parte dos usuários da ponte é dos municípios de Niterói e São Gonçalo.

O empresário Bruno Badini, sócio da Vertigo Tecnologia, empresa de serviços de tecnologia da informação, mora em Niterói desde 1997, com exceção de um curto período, quando se mudou para o Grajaú, bairro da zona norte do Rio. "Minha mulher estava grávida e foi assaltada, daí decidimos voltar para Niterói, mas hoje a cidade também sofre com a violência urbana. Chegamos ao ponto de ter arrastão na praia de Icaraí", disse Badini, referindo-se ao principal bairro da cidade.

No passado recente, era comum cariocas decidirem comprar imóvel em Niterói, porque os preços eram mais baixos do que no Rio. Mas isso está mudando. Rubem Vasconcelos, presidente da Patrimóvel, afirma que os preços dobraram em um período de dois anos em Icaraí. Atualmente, o metro quadrado em Icaraí é de cerca de R$ 8 mil, acima dos R$ 6 mil da Barra da Tijuca, bairro da zona oeste do Rio. Marcos Saceanu, diretor de incorporação da PDG CHL, disse que, apesar da grande valorização em bairros como Icaraí e Jardim Icaraí, Niterói continua a apresentar um dos melhores índices de venda da carteira da empresa.

Boa parte dos moradores de alta renda de Niterói, no entanto, não trabalha na cidade, que não conta com um forte mercado de trabalho. Badini é um exemplo disso. A Vertigo, empresa dirigida por ele, tem sede no centro do Rio. "É uma terra de profissionais liberais que não têm trabalho no local, mas lá residem", di Neri, da FGV.

O economista conta que Niterói é o município brasileiro com maior número de médicos por habitante, segundo dados obtidos em uma pesquisa anterior. A cidade tem um médico para 93,55 habitantes, acima de Cuba, país líder do ranking mundial em termos de habitantes por médico.

Neri destaca, porém, que Niterói perde 38% de seus médicos durante o dia. Isso significa que a taxa real de habitantes por profissionais que trabalham no município é de 129 habitantes por médico, e não os 93, calculados com base nos médicos residentes na cidade.

Para o secretário Treiger, Niterói não é um município-dormitório - nesse caso, uma espécie de dormitório de luxo. "Quem é daqui é provinciano, gosta e não sai daqui." Ele afirma que a economia do município está assentada em um tripé: comércio, serviços e atividade imobiliária.

Niterói também tem tradição de ser um polo da indústria naval, mas, segundo Treiger, os estaleiros não têm peso importante na economia local, em função de isenções fiscais, e também pelo fato de grande parte da mão de obra empregada não morar em Niterói, mas em municípios vizinhos, como São Gonçalo.

Da arrecadação total de Niterói no ano passado - cerca de R$ 1 bilhão -, mais de 30% (R$ 330 milhões) corresponderam à cobrança de IPTU e ISS. O restante foi obtido por meio de repasses do Estado e do governo federal. Apesar de estar situado junto ao mar e próximo à região produtora de petróleo, o município recebe poucos recursos dos royalties. Foram R$ 45 milhões em 2010, menos de 5% da receita total do município no período.

Treiger diz que o turismo tem potencial para superar as atividades tradicionais do município. Uma das apostas é o Caminho Niemeyer, projeto de Oscar Niemeyer, um roteiro à beira-mar de equipamentos urbanos (museu, teatro popular, torre panorâmica, centro de convenções), alguns ainda em construção ou projeto.

Para enfrentar o problema do tráfego urbano, Niterói trabalha em plano de transporte e trânsito desenvolvido pelo escritório de arquitetura Jaime Lerner. A ideia é implantar a solução dos corredores exclusivos para ônibus, os chamados BRTs (Bus Rapid Transit).

Para o economista Mauro Osório, estudioso da economia fluminense, Niterói tem um problema de gestão pública com um custeio per capita alto e um baixo investimento per capita.

"O custeio alto e o investimento baixo são uma referência, mas não podem ser uma definição rígida, porque em áreas como saúde o custeio é mais caro do que o investimento e, em educação, surge a dúvida se o professor é custeio ou investimento", diz Osório. - Valor Econômico

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